A história de como nos conhecemos, a decisão de viajarmos juntos, a viagem, a decisão de casarmos, o casamento, a vida a dois, desafios no novo país, saudades de casa, da família, amigos, o começar de novo mas com a certeza de que fez a escolha certa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Subindo montanhas, visitando rios e igrejas, andando por entre fazendas e fazendo amizade com ovelhas




Andava meio cansada de não sair de casa, afinal, para quem vem da cidade, sair de casa significa, ver prédios comerciais altíssimos, tráfego de gente, de carros, ouvir som de âmbulancia, polícia, ir tomar um café num lugar meio charmoso, almoçar ou jantar fora, encontrar os amigos para uma cervejinha e até fazer compras.

Aqui na cidade da minha família norueguesa não tem nada disso, ao invés, nos temos montanhas, ar puro, rios e lagos, muitas árvores, flores, somente casas, nada de tráfego de gente e carros, é raríssimo encontrar com pessoas e ver carros pelas ruas, polícia e âmbulancia até hoje nunca vi nem escutei mas tem, som dos pássaros, algumas borboletas ensaiando voos que mais parecem algum tipo de dança, não há se quer um barzinho, um café super aconchegante ou mesmo um restaurante.

Dias desses eu estava em crise existencial, não conseguia ficar nem em pé, nem sentada, cansada do computador que é meu amigão de cadeira, então resolvi, vou sair, vou andar, sei lá, apenas preciso sair.

Meu irmão norueguês falou então, vou andar pelo mato, subir a montanha aqui de trás do prédio, sim nós temos uma montanha logo atrás do prédio que moramos.

Bom, topei na hora, afinal, tenho certeza que minha caminhada original não iria até o topo da montanha não, ia andar pertinho de casa mesmo, para não se perder.

É engraçado isso, todos ficam super preocupados em eu me perder por não estar acostumada a sair por aqui. Primeiro meu marido lindo que está literalmente "morrendo" no sofá,  "tadinho", ele estava meio "doentinho", acho que inicio de resfriado, daqueles que você não quer levantar nem pra comer.
Ele, você precisa andar muito, perguntou, vou com você, "cof", cof" ....affff! na hora eu disse , prometo, só no bairro, não precisa me acompanhar, não vou me perder.

No final, o irmão norueguês foi quem passeou comigo, ou melhor, eu quem fui com ele.

Eu, meu irmão e minhas botinhas "Timberland", aquelas que prometi que aterrizando na Noruega não usaria por um bom tempo... novos tempos, novo país, novos sapatos, nada de sandálias de salto, que eu amo.

A trilha começa logo que saímos do prédio, uns 100 metros eu acho, menos de 50 metros, avistei, a MEGA subida que teríamos, respirei fundo e segui, nossa essa caminhada mostrou como se perde a forma rápido, eu estava praticamente sem fôlego, com língua de fora mesmo.

Continuamos e já podíamos apreciar a passagem, foi praticamente uma aula de botânica e pouquinho da vida animal da região.



Meu irmão me mostrou, pé de tudo quanto é fruta vermelha, de morango, morango selvagem (esse cresce uma vez em um lugar e depois nunca mais, vai mudando, pulando, de galho em galho) passando por framboesa, amora e muito mais.

Mostrou algumas flores. Contou os tipos de animais que podemos encontrar por esta região. Lembrou que no último final de outono ajudou uma amiga que mora em uma fazenda vizinha a recolher o rebanho de ovelhas pois o inverno estava chegando e elas não poderiam mais ficar andando montanha abaixo e acima para não morrerem de frio.

Fizemos uma parada, tomamos água, comemos umas balinhas. Meu irmão adora doce, bala então, tem que esconder dele.

Quando notei estávamos quase no topo, e já tínhamos uma visão completa da cidade de Klaebu, aonde mora minha família norueguesa e estamos morando, eu e meu marido lindo,  até encontrarmos uma casa na cidade de Trondheim, que eu e meu marido lindo, preferimos por muitos motivos e principalmente por ser maior.

O dia estava super bonito e ensolarado com o céu bem azul pois tivemos uma semana de bastante chuva e agora ela tinha dado uma trégua.

Até comentei com meu irmão que minhas botas estavam felizes de terem saído do armário e ficarem sujinhas de barro, lama e grama.

O dia estava tão bom que eu estava vestida de shorts e camiseta, na Noruega, prova que é possível usar roupas destes modelitos.

Foi a primeira vez que saímos somente eu e meu irmão e foi muito legal porque conversamos bastante e eu pelo menos posso dizer que ele é um cara legal de verdade, sabe muitas coisas e é muito querido.

Finalmente atingimos o topo da montanha, celebramos com algumas fotos, água e balas é claro. Foram 6KM de caminhada.

Ficamos mais algum tempo admirando a paisagem, conversando e então descemos para tomar um banho e jantar na casa dos meus sogros.












Me senti muito melhor, estava precisando de ar puro, de andar e andar, pensar na vida, ouvir a natureza, ver as belezas que ela proporciona aos nossos olhos, coração e mente.

Fiquei tão animada que me propus a andar mais pela região e conhecer o que ela tem a oferecer pra mim e todos os moradores.

Na mesma semana, meu marido já melhor, andamos contra a montanha, chegamos ao rio que passa aqui pela cidade aonde muitas pessoas pescam, atravessamos por entre algumas fazendas, vi as ovelhinhas da amiga do meu irmão e visitei a igreja da cidade.

Estou gostando mais do meu país verdinho e sentindo menos falta da minha cidade de pedras.

Um comentário:

  1. Caramba Andréia. Fiz uma viagem longa e você já me pega pra caminhar? Adoro ver tudo isso. Sabe o que me parece? Uma cidade de brinquedo. É tudo muito arrumadinho, bonitinho. Outro mundo. É isso. Outro mundo! Sabe, quando penso em você logo penso no quanto você é corajosa. Não é fácil esta mudança não. Só mesmo movida pelo amor. É tudo muito lindo, não tenho dúvida. O que digo, você sabe, é a mudança, a cultura, os costumes... beijão pra você.

    Psiu: deixei um post pra você em "Palavrinha Mágica"

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